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domingo, 6 de janeiro de 2013

Entrevista de Carlos Sena Passos a Sebastião Vilela – Magazine / O Popular, 06/01/2013.

1 – Além do período, quais são outras características de DJ Oliveira e Cleber Gouvêa que determinam que eles se inserem no movimento modernista das artes plásticas goianas? Carlos Sena – Os dois artistas são professores fundamentais para as escolas que estabeleceram o ensino superior em arte no Estado na década de 60. DJ Oliveira lecionou na Escola Goiana de Belas Artes para a juventude da época (Siron franco, Ana Maria Pacheco, Iza Costa) e para além da escola seu atelier influenciou muitos outros artistas. Cleber Gouvêa foi o grande professor de pintura do antigo Instituto de Artes, que existiu antes da atual FAV da UFG. Oliveira foi o artista seminal para a corrente expressionista que se criou em Goiás, enquanto Cleber foi mais abstrato e racional. Ambos representam duas faces do nosso Modernismo: uma marcada por subjetividade e impulsividade, outra marcada por raciocínio e planejamento. 2 – É correto afirmar que assim como na literatura, o modernismo em Goiás foi um tanto tardio? Caso afirmativo, por que isso ocorreu? São vários os movimentos e obras modernistas existentes no Brasil. Entendo que temos que parar de pensar que o início do modernismo no Brasil ocorreu somente com a Semana de Arte Moderna em 1922. O país é muito grande e complexo, com muitas temporalidades. Acredito que temos que superar o “tardio”. Em Goiás, o modernismo das artes plásticas surgiu somente com o ambiente criado em Goiânia (cidade nascida mais de dez anos após a Semana de 22) e com a própria implantação das instituições de ensino. Em Goiânia, a primeira exposição a exibir arte moderna foi realizada em 1954. O nosso modernismo nas artes plásticas aconteceu em sincronia com o crescimento de Goiânia e conseqüentemente do Estado. Na hora certa, os artistas deram as respostas certas às questões que a sociedade lhes apresentava. E isto é o que importa. 3 – O legado maior de DJ Oliveira está na visão que ele trouxe para Goiás de ser artista, de viver da arte, ou na sua extensa produção? Acredito que o legado do Oliveira se deu nos dois campos. Sua atuação de professor foi muito importante para a formação de uma geração inteira de artistas goianos, e sua obra foi muito vasta e feita com muitas técnicas. Foi como artista que ele revelou parte da nossa identidade cultural. 4 – Cleber Gouvêa era um mestre que dominava as diversas técnicas ou ele não tinha medo de experimentar? Cleber era um professor que sabia de muitas técnicas. O que ele não sabia ele pesquisava e inventava. Ele dava aula no Instituto de Artes na minha época de estudante, mas eu não estudei com ele. Sua fama era de ser “Dona Benta das artes plásticas”, porque dominava a parte técnica, os métodos de feitura, a artesania dos ofícios. 5 – As individuais de DJ Oliveira e Cleber Gouvêa no MAC do CCON situam a importância da dupla para a evolução das artes visuais em Goiás? Tem muitos anos que os artistas faleceram e desde então ainda não se havia realizado grandes mostras sobre suas produções, sobretudo acompanhadas de catálogos com textos críticos e com cronologias. As duas exposições no MAC são oportunidades para o público que nunca viu conhecer a produção dos dois artistas, para o publico conhecedor rever e reavaliar, e para os especialistas é oportunidade de pesquisar. Carlos Sena Passos nasceu em Mairi BA em 1952, vive e trabalha em Goiânia GO desde 1973. É artista plástico, diretor do Centro Cultural UFG, professor da Faculdade de Artes Visuais da UFG e pesquisador da arte em Goiás. Coordena a formação do acervo artístico da UFG e foi curador do 1º Salão de Arte Contemporânea do Centro-Oeste.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Muito prazer, Goiânia!

"- Muito prazer, Goiânia!" . 2003". Flyers, cartões, imãs de geladeira, etc. em molduras de gesso. Acervo UFG. Obra de Carlos Sena que participa da exposição "A cidade é o Lugar" no Museu de Arte Contemporânea de Goiás - Centro Cultural Oscar Niemeyer, à partir do dia 11 de dezembro de 2012. _______________________________________________________________ Uma coleção de impressos emoldurados sinalizam os diversos produtos e serviços, à disposição dos sujeitos nas metrópoles atuais. Imagens efêmeras e descartáveis, que nos invadem diáriamente a existência, através dos multi-canais midiáticos e massificadores, anunciando a saciedade do corpo e a transcedência do espírito. Aqui, instaura-se um verdadeiro corolário de promessas de felicidades, e facilidades para se viver numa cidade grande, e numa sociedade que, é toda ela vocacionada ao progresso. No conjunto imagético inclui-se os flyers, panfletos, cartões, imãs promocionais e anúncios de shows, festas, espetáculos, restaurantes, seviços deliverys, cartões de créditos, de contatos, etc..., e estes, juntos na proposta artística, acabam também por indiciarem à uma espécie de crônica contemporânea da atualidade, motivada numa Goiânia do início dos anos 2.000. _______________________________________________________________ Na urbe caleidoscópica que o material exibe, "apresentando-se aos contatos amistosos e prazeirosos", percebemos que, na aparência programada ao consumo, é residual os resquícios da memória visual e do gosto do século passado, que aqui são vistos num processo de apagamento e de amnésia coletiva; esse aspecto, contrasta agora, com a nova visualidade instaurada pela colorida coleção de imagens que foram emolduradas. As imagens descartáveis de propaganda e de publicidade sinalizam às promessas de um futuro com mais prazer e conforto num lugar utópico, onde todos os sonhos são passíveis de serem realizados. Assim, nos sugere esse universo de aparências programadas à substituição contínua de modelos e de mensagens, nesse jogo onde elas que estão sempre à nossa disposição para nos servir, e nos comunicar intermitentemente, os seus serviços e vantagens. Estas imagens/mensagens, no fundo nos comunicam também, o domínio de um sistema pautado num modelo de mundo, que está sempre em completa transição, e voltado apenas, a promoção da eficácia do consumo.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

"MUTLEY, FAÇA ALGUMA COISA!..."

ASSIM FOI O CAPÍTULO FINAL DA NOVELA MEDALHA, MEDALHA, MEDALHA!..." ________________________________________________________________ Os textos de apresentação dos homenageados com as Medalhas de Mérito Cultural durante a entrega do Troféu Jaburu 2012, não foram lidas na cerimônia oficial ocorrida no Palácio das Esmeraldas no dia 21 de novembro, quando então, optou-se por uma redução no tempo de duração daquele ato simbólico. Publico aqui o texto que me referendava a Medalha de Mérito Cultural Artes Plásticas, apoiado na crença que a minha homenagem,assim como as demais, a princípio foram sugeridas pelas categorias artísticas e/ou culturais, e posteriormente corroboradas pelo Conselho de Cultura Estadual de Goiás; quando este, nos preparou os tais textos. Porisso estou reproduzindo aqui, e em destaque, a minha apresentação particular. Eu a retirei de um dos poucos papéis impressos, providenciados pelo cerimonial e distribuídos no salão. Esclareço que, eu não estou fazendo isto por qualquer destrato político, ou como, uma atitude de desagravo aos organizadores do evento em sí, por terem enxugado a tal cerimônia; pois isso confesso que, no fundo eu até achei muito bom, devido ao calor insuportável que fazia naquela noite, e, a que nenhum ar-condicionado fora capaz de refrescar a grande multidão que se acotovelava no Sala D. Gercina Borges. Embora eu entenda também, que o público presente merecia sim, conhecer às razões das homenagens em sí, com ou sem calor. Mas, a razão principal de reproduzir a minha apresentação aqui, é tão somente porque, eu me sentí muito honrado com o reconhecimento do meu trabalho e da minha trajetória de vida, compromissada com os desenvolvimentos da arte local, e, a que esse texto então, intentava esclarecer e tornar público. Só agora, eu posso compartilhar a que deveria ter sido a minha apresentação, e assim, eu posso atingir ao menos em parte, ao seu propósito original. _______________________________________________________________
Carlos Sena - Artista plástico, Rosa Berardo - Audio-Visual e Eriberto Bevilacqua - Vice-Reitor da UFG, representando a Rádio Universitária. _________________________________________________________________ DIRIA ASSIM, O DISCURSO DA MINHA APRESENTAÇÃO: _________________________________________________________________ CARLOS SENA PASSOS (Artes visuais) _________________________________________________________________ Carlos Sena Passos tem uma vitoriosa carreira como artista plástico, como incentivador de jovens artistas, gestor cultural e divulgador das artes plásticas em Goiás. Como artista, participou de gabaritadas exposições individuais e coletivas, regionais e nacionais. Participa com várias obras da Coleção Gilberto Chateaubriand e do acervo do MAM – Rio. Mestre pela Escola de Comunicação e Artes da USP e professor da Faculdade de Artes Visuais da UFG. Participou ativamente da criação e implementação do Centro Cultural da UFG. Sob a sua direção, este espaço obteve para o acervo obras premiadas de artistas contemporâneos nacionais, doadas pelo Prêmio SESI Marcantônio Vilaça e Itaú Cultural. Vencendo o Edital da Funarte, realizou o 1° Salão de Arte Contemporânea do Centro-Oeste com a participação de importantes críticos nacionais e artistas da região. _________________________________________________________________ LISTA COMPLETA DOS HOMENAGEADOS DO TROFÉU JABURU 2012 _________________________________________________________________ Finalista e um dos vencedores do Prêmio Jabuti deste ano, o escritor Edival Lourenço foi o 48º homenageado com a comenda maior da cultura goiana, concedida todos os anos pelo Estado de Goiás. A solenidade de entrega do Troféu Jaburu 2012, que também celebrou os 45 anos de criação do Conselho Estadual de Cultura, aconteceu no Palácio das Esmeraldas no 21 de novembro, às 20 horas. _________________________________________________________________ Criado por resolução do Conselho Estadual de Cultura de Goiás (CEC-GO), o Troféu Jaburu foi entregue pela primeira vez à Cora Coralina, há 32 anos. A escolha da pessoa homenageada a cada ano é feita pelos conselheiros e o troféu é entregue a personalidades que se destacam no campo da cultura, seja pela sua promoção, por intensa militância ou excepcional produção. _________________________________________________________________ Edival Lourenço, 2º lugar na categoria romance do Prêmio Jabuti com a obra “Naqueles morros, depois da chuva”, foi eleito este ano para receber o Troféu Jaburu, em reconhecimento ao conjunto de sua produção. Outras vinte e seis comendas (entre medalhas e diplomas) forão entregues a artistas, produtores, gestores públicos, representantes da cultura popular e instituições de destaque. _________________________________________________________________ As Medalhas do Mérito Cultural foram concedidas a Valdivino Braz (letras), Valéria Figueiredo (artes cênicas - dança), Rosa Berardo (audiovisual), Consuelo Quireze (música), Carlos Sena Passos (artes plásticas) e Custódia Annunziata Spencièri (memória e patrimônio), pessoas que tiveram uma trajetória de significativa dedicação a ações nesses segmentos. _________________________________________________________________ Por sua vez, os Diplomas de Destaque Cultural do Ano, foram concedidos às pessoas físicas e jurídicas que mais se sobressaíram nas atividades culturais nos últimos doze meses, também entregues na solenidade de quarta-feira. Foram homenageadas as Festas do Divino Espírito Santo de Crixás e de Jaraguá, a Rádio Universitária de Goiânia (UFG), o Instituto Histórico Geográfico de Goiás (IHGG), o Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG) e o Teatro SESI, além de artistas do circo, da música e do audiovisual. Participaram da solenidade homenageados vindos de doze municípios goianos. Confira a lista completa das pessoas e instituições que receberam as Comendas Culturais do Estado. ______________________________________________________________ HOMENAGEADOS COM AS COMENDAS CULTURAIS DO ESTADO: ______________________________________________________________ TROFÉU JABURU: Edival Lourenço de Oliveira ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ MEDALHAS DE MÉRITO CULTURAL: ______________________________________________________________ · Valdivino Braz (letras) ______________________________________________________________ · Valéria Figueiredo (artes cênicas - dança) ______________________________________________________________ · Rosa Berardo (audiovisual) ______________________________________________________________ · Consuelo Quireze (música) ______________________________________________________________ · Carlos Sena Passos (artes plásticas) ______________________________________________________________ · Custódia Annunziata Spencièri (memória e patrimônio) ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ DIPLOMAS DE DESTAQUE CULTURAL DO ANO DE 2012: ______________________________________________________________ · Adalto Bento Leal · Adriana Rodrigues · Antolinda Baía Borges - “Tia Tó” (Cidade de Goiás) · Associação de Artesãos de Valparaíso de Goiás (Amorval) / Prefeitura Municipal de Valparaíso de Goiás · Associação de Catireiros e Foliões de Crixás (ACFC-GO) / Grupo de Catireiros de Crixás / Prefeitura Municipal de Crixás. · Associação de São José (Bela Vista de Goiás) · Coletivo Cine Cultura · Fractal Filmes · Folia do Divino de Jaraguá / Banda Santa Cecília / Paróquia Nossa Senhora da Penha · Hugo Caiapônia · Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG) · Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG) · Jhony Robson dos Santos - “Bulacha” · Juliano George Basso (Vila de São Jorge – Alto Paraíso) · Maria da Piedade Gonzaga Lopes (Orizona) · Casa de Cultura - Prefeitura Municipal de Bom Jesus de Goiás · Rádio Universitária - Universidade Federal de Goiás (UFG) · Teatro SESI · Tião Donato (Inhumas) · Walter Menezes

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Goiandira do Couto e a pintura/colagem com as areias multicoloridas da serra dourada.

Goiandira do Couto - Largo do Rosário.

Deire Assis entrevista Carlos Sena

O Popular
Qual o significado da obra de Goiandira do Couto para Goiás e o Brasil?

Carlos Sena
Goiandira do Couto foi a primeira mulher pintora do estado Goiás, e ela, já aos 16 anos encarou a pintura como ofício, mas, só vai alcançar mesmo a sua maturidade artística, quando começar enfim, a desenvolver a sua técnica de pintura/colagem com as areias coloridas da serra dourada. Desenvolveu uma temática inspirada nos tradicionais casarios coloniais, ruas e becos da Cidade de Goiás, criando uma arte que lhe conferiu um reconhecimento que se ampliou do local aos muitos admiradores no plano nacional, e conseguiu também fazer muitas incursões no colecionismo internacional, disseminando suas pinturas por diversos países do mundo.
Goiandira do Couto e Oto Marques foram os dois artistas pioneiros na representação do paisagismo no estado de Goiás, e que, se inspirando no bucolismo da antiga capital, ajudaram em muito, a criar uma identidade visual goiana na pintura do séc. XX.

O Popular
Só mais tarde Goiandira desenvolveu a técnica com areias. Isso comprova o espírito inovador e criativo desta artista?

Carlos Sena
Em 1967 exatamente quando ela tinha os seus 52 anos, ela radicalizou de vez a sua técnica, encerrando aí, a fase da pintura a óleo quando manobrava finos pincéis, passando a manipular então, as cores em estado bruto obtidas dos pigmentos minerais que coletava na serra dourada, e são estes pigmentos, que lhes escorrendo dentre os dedos, irão conferir aquela famosa luz dourada às inimitáveis paisagens goianas que pintou. São vistas de Goiás aprisionada dentro da serra dourada, e esta serra, é que além de conferir a matéria-prima inusitada para a artista se expressar, é também a fonte de onde emana a luz dourada refletida na cidade justificando aí o seu nome de “Serra dourada”, e foi esse clima dourado da Cidade de Goiás, que Goiandira do Couto magistralmente conseguiu capturar nas suas pinturas .

O Popular
A técnica pioneira de Goiandira fez seguidores?

Carlos Sena
Em todas as áreas do conhecimento, sempre que alguém cria algo novo, logo na sequência, surgem os imitadores. Com Goiandira também não foi diferente, ao longo da sua existência teve um séquito deles, eu mesmo já ví uns três ou quatro; mas, o mais importante disso tudo, será que ao contrário dela, nenhum deles alcançará reconhecimento público, e a técnica de pintura/colagem de areia, não importa quem a use, será sempre reconhecida como a técnica da Goiandira do Couto.

O Popular
Como fica a cultura de Goiás sem Goiandira?

Carlos Sena
O artista é gente, e toda gente é finita. Agora, quanto a natureza da Arte, muito antes e também pelo contrário, pretende-se eterna. Então,podemos pensar que o estado ficou mais pobre porque perdeu a grande cidadã, e a Cultura ficou enriquecida com a sua produção, e esta agora já podemos dizer, está concluída. Poderíamos dizer também, que agora a sua obra já está iniciando um outro ciclo, que é até muito maior e mais complexo, a sua produção agora trilha o caminho do reconhecimento histórico, ou da produção simbólica de uma época, engendrando assim uma dimensão que envolve ao seu legado artístico enquanto um patrimônio cultural do estado de Goiás.

Entrevista concedida no dia do falecimento de Goiandira do Couto (22/08/2011), e publicada parcialmente em O Popular de 23/08/2011, aquí exibida na íntegra.
FOTO: Marcos Lobo

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Comenda de Honra ao Mérito – Anhanguera

Pitágoras Lopes, Divino Sobral e Carlos Sena - "Tá Comendado!..."

Tudo aconteceu muito rápido, e de repente lá estávamos Pitágoras, Sobral e eu dentre os homenageados de 2011. Daqueles que, iriam receber a Comenda Anhanguera – maior distinção conferida pelo Governador, na cerimônia de transferência simbólica da capital do estado de Goiás para a Cidade de Goiás, a antiga Vila Boa. Nela, que atualmente ostenta o título de patrimônio da humanidade, e que também fora no passado a sua primeira capital. Através dessa cerimônia oficial, todo ano a Cidade de Goiás recupera simbólicamente o status-quo de capital durante as comemorações de seu aniversário, e dentre estas comemorações, um dos momentos mais esperados é a Cerimônia de distribuição da Comenda Anhanguera, para um time de personalidades estaduais duma seleta lista que o Governo organiza para tal ocasião. Coisas da história e da tradição goiana!

Pois bem, foi nessa lista fechada que fomos incluídos em 2011, e porisso rumamos todos nós, para a famosa cerimônia na Cidade de Goiás. Alí, naquele fim de uma manhã de julho do dia 27, numa quarta-feira, no largo do chafariz de cauda, debaixo de um sol a pino, na frente da antiga cadeia, e com a Vila Boa literalmente aos nossos pés; comparecemos quando se armou a cerimônia oficial desse ano, e esta, com a presença do Governador Marconi Perillo, com diversas autoridades discursando, e também com os agraciados perfilados (centenas deles) lado a lado; suando em bicas dentro de suas roupas festivas, e corações disparados no meio de toda aquela exposição pública; a cerimônia em sí, que me parecia mais, um misto de rito militar e celebração olímpica com direito a pódio. Tudo isso era promovido então, em nome dos supostos feitos honoríficos, que nos asseguraram, termos prestados ao estado.

Essa era o tipo de situação que, você nunca saberia ao certo do porque, ou como, isso de fato, fora acontecer justamente com você. E logo você, que nunca tinha sonhado com algo assim, ou sequer invejou a quem e por acaso um dia, já tivesse conseguido tal tipo de distinção; e bem você que, até lá no fundo do seu eu, regojizava-se de prazer porque jamais faria parte desse rol, ou dessas tribos. Mas agora, por ironia do destino, uma vez que tivera sido incluído na lista dos Comendadores de Goiás, não se daria mesmo, para recusar à tal homenagem, pois acredito que ela simplesmente é, uma espécie do “Oscar do Cerrado”; e mesmo que não concordemos com esse tipo de estratégia de promoção política, uma vez distinguidos, não nos resta outra escolha que não seja encarar esse fato de frente, e também ao seu ritual. Afinal de contas, acredito também, que não devemos retribuir distinção e respeito com recusas e falta de educação para com os que nos atribuíram e/ou outorgaram reconhecimentos de méritos nos nossos feitos. Diz a sabedoria popular que, quem está na chuva, tem que se molhar. Aqui nesse caso, na verdade seria melhor se dizer: quem está no sol abrasador da Cidade de Goiás esperando Comenda-Anhanguera, que se molhe também, que sue todas as suas bicas, que empapem às suas roupas de festas, mas, mantenham as suas poses e esperem humildes e solenementes ,a vez de cada um deles, ser agraciado com a tal medalha honorífica. Quem seria bobo de recusar tal homenagem? nunca se sabe o dia de amanhã. E vai que, de repente, seja necessário provar sabe-se lá para quem, que você é um sujeito respeitável! Por via das dúvidas, melhor aceitar a homenagem e comparecer à cerimônia.

Assim, num determinado momento dessa solenidade, surge na sua frente, um fardado militar de alto escalão, tal fato esse, indiciado pela enorme quantidade de medalhas e comendas que ele ostentava no seu fardão, e esse militar, postado à sua frente, lhe cumprimenta em nome do Governador do Estado de Goiás. Em seguida, pega uma das diversas medalhas que uma jovem e bela, e também, policial militar segurava numa bandeja, e diz: - “Em nome do Governo do Estado de Goiás, eu estou lhe entregando a Comenda da Ordem ao Mérito – Anhanguera, a que Vossa Senhoria se fez merecedor, e como reconhecimento pelos relevantes serviços que o Sr. prestou ao Estado de Goiás”. Enquanto ele recita muito compenetrado e oficialmente o texto daquele ritual, uma outra bela moça policial, postada às costas do homenageado, se incubia de amarrar a comenda no seu pescoço. Daí, veio o cumprimento final - Meus parabéns! E então, eles se dirigem para o próximo agraciado da fila para repetir tudo aquilo.

E de repente, com a medalha já pendurada sobre o peito (pesadona ela!) você fica alí como uma barata tonta, procurando alguém conhecido na platéia para exibi-la de perto, e fica também, com uma vontade de fugir dalí, louco para se livrar daquelas roupas suadas pelo calor causticante de Goiás. E mais ainda, fica com uma fome de cão no meio dia que já é; e aí, pensando bem, o melhor agora seria, se mandar daquele lugar para resolver tudo aquilo outro que agora, estava lhe aperreando por demais. Nessa situação, o melhor mesmo, será deixar os exibimento aos amigos para depois, bem depois, e de preferência fazer isso longe dalí pelos e-mails, blogs, twitters e facebooks da vida!


Carlos Sena Passos